Meus tempos de ginásio
Chamava-se
Colégio Jabaquara e ficava no bairro de São Judas Tadeu, mais exatamente na Av.
Jabaquara 2925 onde está hoje o prédio da ABIMAQ ao lado do atual Supermercado Wal-Mart,
onde naquela época era a Fabrica de Vidros Wheaton. Ocupando o outro lado da
esquina ficava o Colégio Almirante Barroso que se mantém lá até hoje.
Eu
morava na Rua das Camélias, exatamente na casa que agora voltei a usar com o
falecimento de meus pais.
O
período era de 1960 a 1963, lembro-me dos diretores Prof. Arnaldo Cataruzzi e Prof.
Fontes. Professor Orlando, já bem idoso, lecionava matemática, nos dias de
prova inspecionava todas as carteiras e até as cortinas da sala de aula em
busca de colas, Prof. Cataruzzi lecionava Latim e Português um professor que eu
estimava muito, rigoroso mas muito bondoso e amigo, Prof. Borelli lecionava
Geografia e tinha um método de ensino bastante avançado para a época, por
exemplo: para facilitar a memorização dos rios da Itália contava uma história
"O Tigre roda no pó" Nunca mais me esqueci que na Itália existem rios
com os nomes "Tigre, Ródano e Pó"! Espiridião Kasfiks era o professor
de Inglês, o melhor que já tive na minha vida, infelizmente veio a falecer e
foi substituído por uma professora que não me recordo o nome e que era o oposto
dele. O Prof. de música era o Antônio Fratantônio, grande figura, nos encantava
contando fatos sobre o grande Heitor Villa-Lobos, de quem foi amigo e naquela
época recentemente falecido. Havia um professor, que não me recordo o nome, ele
no final das aulas devolvia as cadernetas, onde a secretaria anotava o
comparecimento do aluno, atirando-as girando em direção ao aluno, motivo isto de
grande algazarra e farra. Dona Ziza administrava a secretaria da escola e nos
colocava de castigo quando éramos expulsos da sala de aula e para lá eramos
levados pelo Sr. Álvaro, fiscal de alunos, magro, sempre de terno preto e
óculos escuros.
Os
colegas de que me lembro: Cardinali, cujo pai era despachante, Yutaka, Jordão, Reinaldo,
Elias, Hamilton, Dulce, Beatriz, Dalva, Verônica, esta última era fã
incondicional do Elvis Presley e seus cadernos eram encapados com a figura do
astro que na época estava no auge da carreira. E muitos outros e outras de que peço
desculpas mas não me recordo o nome, afinal se passaram quase 50 anos.
Sempre
estudei no período da manhã, saiamos por volta do meio dia e o passeio que
sempre rolava era a visita ao saguão do Aeroporto de Congonhas onde haviam
lojas de discos, perfumarias, papelarias e presentes, etc. Tomávamos o ônibus
Aeroporto – Perdizes, linha recém-inaugurada e descíamos na entrada do
aeroporto onde era o ponto final.
Rolavam
os primeiros namoros e as músicas que mais tocavam nos rádios e lojas de discos
eram: “Ronnie Cord – Biquíni Amarelinho” – “Ray Charles – Stella by Starlight”
– “Roberto Carlos – Malena” e “Doce Amargura com Moacyr Franco”. O café da ala
internacional de Congonhas eu nunca vou esquecer, pagava-se e recebia-se uma ficha de
papel que era entregue no balcão. A funcionária recolhia a ficha e colocava uma
xicara larga de porcelana com um pires de alumínio e uma colherinha. Colocava-se
o açúcar a gosto e lá vinha uma outra funcionária segurando um bule gigantesco
pela alça e apoiado em baixo com um pano molhado enrolado e ela com uma prática
incrível embicava aquele bule na direção de cada xícara e colocava a quantidade
certa de café sem nunca derramar uma gota sequer, e era bem gostoso aquele café!
O
transporte da Praça da Árvore para São Judas era um caso à parte: Os bondes das
linha 66 – Praça João Mendes – São Judas Tadeu e os da linha 104 – Santo Amaro
– São Judas Tadeu ambas que foram inauguradas em 1955 e extintas em 1966. Os
bondes nessa época a maioria eram abertos e tinham um bonde reboque que
provavelmente eram os antigos bondes puxados a burro, sim porque os bondes
abertos que rodavam naquela época eram todos do início do Século 20.
Posteriormente esses bondes foram reformados e já em 1963 eram todos fechados, os
famosos camarões iguais ao da foto. E as propagandas nos bondes? A mais famosa
era de um medicamento chamado “Rhum Creosotado”: "Veja, ilustre
passageiro, o belo tipo fagueiro que o senhor tem ao seu lado. No entanto,
acredite. Quase morreu de bronquite! Salvou-o o Rhum Creosotado." Mais
tarde soube que estes versos são atribuídos a Bastos Tigre, o mesmo que criou o
slogam “Se é Bayer é Bom!”, ou os versos seriam de Ernesto de Souza, o dono do
laboratório que fabricava o famoso medicamento?, já que existe uma polêmica
acerca desta autoria, mas isto é outra história.
Havia
um ponto de parada em frente da Igreja de São Judas e o outro já era na Av.
Irerê. Então pedíamos ao motorneiro, (era assim que chamava-se o motorista do
bonde) que diminuísse a velocidade no cruzamento da Av. Indianópolis e todos
descíamos com o bonde em movimento, até o dia em que dei de cara com uma árvore,
saindo com o nariz esfolado. Os bondes seguiam pela Av. Jabaquara, entravam na
Av. Irerê, dobravam à esquerda na Rua Guaiaós onde faziam ponto final ao lado
da Caixa de Água. Essas ruas eram de terra e quando chovia só os trilhos
ficavam acima das poças de água. Era ali que travávamos o freio manual do bonde
reboque e quando o motorneiro saía pela Av. Ceci em direção à Av. Jabaquara,
sentia o bonde pesado, já que as rodas do reboque estavam travadas. Parava o
veículo no meio da rua, se dirigia ao reboque e rapidamente destravava o freio
não sem antes gritar: “Moleques filhos da puta!” com um sotaque típico português,
já que quase todos eles eram dessa nacionalidade.
Para
voltar para casa a farra era pedir carona para economizar o dinheiro do bonde,
muitos motoristas paravam e davam carona, os tempos eram outros! Lembro-me de
um ônibus da Willys Overland (fábrica do Jeep) que voltava de São Bernardo do
Campo vazio e o motorista parava e nos dava carona. Era um ônibus de viagem com
bancos com encosto de cabeça, recentemente fabricado, muito macio, idêntico a
esse da foto.
Só
existia a Igreja antiga de São Judas Tadeu e como ainda é até hoje, passava-se
por um corredor entre a imagem principal da igreja e o altar. O presépio que era montado na época de natal
era uma obra de arte, ficávamos até mais de uma hora e sempre descobríamos
novos detalhes.
Eram
anos dourados, éramos felizes e não sabíamos, no final de 1963 meu pai me tirou
do Colégio Jabaquara para uma escola pública devido a eu ter tomado bomba,
exatamente da mesma maneira que acabo de fazer com meu filho Thiago, 48 anos
depois dos fatos aqui narrados.
Marcadores: recordações
14 Comments:
O que é um lugar bonito, espero que em algum momento têm a oportunidade de ver mais fotos como você está, porque eu gosto de conhecer o passado da minha cidade, eu espero para ver fotos de Jabaquara
Olá!
Ler o que você escreveu, fechando os olhos a cada parágrafo lido, é como viajar no túnel do tempo.
O Meu nome e Wagner Tadeu Matioli, no Ginásio Jabaquara era mais conhecido como "Matioli", e na quela época eu estudava à tarde, mas penso que os professores eram os mesmos, ou quase. Professor Arnaldo Cattaruzzi, além de diretor era também o professor de português e de latim. Professor Orlando lecionava matemática e era muito nervoso e severo. Professor Conrado, ensinava história geral. Professor Valentim, por sua vez, geografia. Professor Speridion (não sei se é assim que se escreve), dava aulas de inglês com um sotaque todo britânico.
Quando terminei o ginásio, fui trabalhar na fábrica de roupas AB, situada na Rua Professor Souza Barros, e no ano seguinte, 1964, meu irmão me levou para a empresa onde trabalhava, a Vidros Viton Ltda, do Grupo Wheaton do Brasil S/A (mais conhecida como "Fabrica de Vidros), na qual trabalhei de 1964 a 1978.
Obrigado por compartilhar essa página do seu blog com as pessoas que, direta ou indiretamente, também viveram experiências como as suas.
Um forte abraço.
Wagner Tadeu Matioli
Acabei de criar um Blog para publicar (ou pelo menos tentar) as minhas memórias das décadas nas quais vivia em São Paulo, cidade onde nasci e morei por mais de 60 anos.
Parabéns pelo seu interessantíssimo blog e até mais!
Vô Matioli (Wagner Tadeu Matioli)
Em 1957, cursei a segunda série do ginásio no querido Ginásio Jabaquara. Lembro-me de alguns professores, entre eles o professor de inglês, Francisco Espiridião que era egípcio, mas residia no Brasil há muito tempo e cujos familiares moravam perto de Presidente Prudente, se não me falha a memória, em Presidente Epitácio. Outro professor que não me esqueço era o Arnaldo, que ensinava matemática, um ótimo professor, muito rígido mas excelente professor. Lembro-me ainda da professora Ceci, magrinha, sofria de algum problema respiratório, acho que bronquite. Ás vezes ela resolvia dar algumas receitas de doces e bolos.Quanto ao professor Espiridião lembro-me ainda de algumas músicas que ele dava em aula, por exemplo; "Clementine", "Only you", além de alguns versinhos para guardarmos diferenças nas colocações de palavras na frase, por exemplo "like".Nessa época eu residia na antiga Rua Caetité, atual Antonio Gebara e ia à pé ao ginásio. No ano seguinte, 1958, passei a estudar no Colégio Santa Amália. Ah me esqueci de dizer, o Diretor era o mesmo.
Fui aluna do Ginásio Jabaquara ,fiz parte da 1ª turma formada em 1953 quando fizemos
uma linda colação de grau no Teatro João Caetano, com a presença de todos os professores.Lembro como você, do brilhante professor Cataruzzi, severo , mas tão humano e tão competente, prof. Fontes de mateática, esposo da profª Jael que nos dava aula de francês, da professora Nancy de educação Fisica ,que nos preparava para os desfiles de 7 de Setembro, quando disputavamos com os meninos as melhores atuações de ginastica ,na apresentação artistica no gramado do estádio do Pacaembú Eram varias escolas que participavam formando grupos fem. e masc.Tudo era feito com muito empenho ,dedicação ,e muito orgulho de ser ¨ Brasileiro¨.
Quando li sua narrativa,retornei ao passado que como você diz ¨nos eramos felizes e não sabiamos.Obrigada pela oportunidade de lembrar que me proporcionou meu nome é Nilza Raphaella Lazzari, hoje com 79 anos e com muita saudade do tempo tão bom que passou.
Nilza Dequech, minha mãe, Lúcia Bairão Bittencourt estudou no colégio Jabaquara na mesma época que vc. Lembro muito dela falando sobre o colégio, as colegas, os professores. :)
Meu Deus....meu Avô era o Arnaldo Cattaruzzi. Fico muito feliz com essa lembrança, pois eu sinto mta falta do meu avô.
se quiser entrar em contato me mande um e-mail
Meu Nome é Roberto Gomes Pereira Filho e estudei ( com muito orgulho ) no Ginásio de 1953 até 1956, quando me formei. Quero dizer a Nilza Dequech que foi colega , na 1ª ssérie do ginásio de sue pai ( acredito ) Nelson Bairão Bittencourt, grande cara. Se não estou enganado o pai do Nelsinho era médico. Hoje sou professor de física inspirado pelos professores do Jabuca. Imegine, em 1976 fui lecionar no ( agora ) Colégio Jabaquera , já na Avenida Ceci, dirigido pelo professor ( saudoso ) Névio. Beijos para você.
Roberto
Sou delcio pereira estudo nesse incrivel ginasio jabaquara nessa epoca
Tenho certesa que tivemos a presenc,a de Deus nos acompanhando..
Felicidades a todos
Prof cataruzzi que Deus o tenha
Obrigado por tudo
Concluí o Ginasio em 1962, muitos amigos, bons tempos...
Tudo que foi relatado, incluindo nos comentários, fez parte de minha juventude. Estudei no ginásio Jabaquara entre 1952/1955. E ainda jogava no time de basquete depois que sai.....
Simplesmente maravilhoso
Muito bom o primeiro comentário, mas só quero fazer uma pequena correção. O citado ginásio Almirante Barroso, na verdade é grupo escolar Amirante Barroso. À noite passava a ser Ginásio Estadual Duque de Caxias Os alunos usavam tinham jaqueta 🧥 azul com uma coruja amarela desenhada à esquerda. Tudo o mais está certo. Parabéns.
Antonio Silva Guimarães, fui aluno, e quando entrei na faculdade , fui ser professor do colegio Ouro Verde, qu era do prof Cataruzi, bons tempos,
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