Os Cinemas de São Paulo III – Praça da Sé e Região
Seguindo a roda dos cinemas,
vou falar agora da região da Praça da Sé ou do centro velho como se dizia na
época.
Na Rua Libero Badaró existia
e ainda existe a “Casa Godinho”
famosa mercearia onde são vendidos produtos da mais fina qualidade, bacalhau,
pães, azeitonas, etc. Ocupa um dos armazéns do “Prédio Sampaio Moreira” e está
lá desde a construção do prédio em 1924 (antes ficava na Praça da Sé desde
1890). Provavelmente a Casa Godinho é o comércio mais antigo da cidade. O Prédio Sampaio Moreira foi o prédio mais alto de São Paulo, só
perdendo para o Prédio Martinelli em 1929.
Não poderia deixar de falar
do “Prédio Martinelli” que
infelizmente naquela época encontrava-se bastante deteriorado, põe deteriorado
nisso. Eu trabalhava no Banco Santander, na primeira investida no Brasil onde
foi meu primeiro emprego. Em 1964 eu ia numa casa de câmbio que ficava em uma
das entradas do prédio, ao nível da rua, com grandes quantias em dinheiro para
adquirir dólares a mando dos executivos do banco. Naquela época já existiam
assaltos sim, mas não ao nível de hoje. O Sindicato dos Bancários ficava no 7º
andar e era muito difícil encontrar um elevador que funcionasse, o jeito era
subir por escada mesmo, ocorre que era um local perigoso, ocorreram vários
assassinatos ali e no prédio encontravam-se as mais diversas atividades, até
uma escola que ensinava a roubar carteiras a polícia encontrou por lá, havia
inúmeros bares em todos os andares e no final da década de 70 foi interditado e
reformado, hoje é ocupado por diversos setores da nossa gigantesca e operosa
municipalidade, entre outras atividades.
Na Rua São Bento nº 385 havia
uma papelaria chamada “Rosenhain”.
Vendiam material técnico para desenho e pintura, lápis da marca “Koo-i-Noor”
importados da Tchecoslováquia em caixas de até 60 cores, esquadros de acrílico
milimetrados em tamanhos grandes e banquetas e pranchetas de desenho muito
robustas. Existia uma filial na Av. São Luiz.
Com a proibição de importações ordenada pela Ditadura Militar, teve que
fechar as portas porque naquela época não havia produção nacional da maioria
dos itens que comercializava.
Encadernadora
Kristina – Rua José Bonifácio 176 cj 9 – Com o fechamento da loja
de artigos para encadernadores da Rua Capitão Salomão, passei a comprar
papelão, percalux e outros materiais na Encadernadora Kristina. Sr. Carlos e
seu irmão eram os proprietários. A Entrelivros eu só fundei em 1991, então me
abastecia lá. Um dia fui lá comprar dois metros de percalux que era vendido
enrolado com 1,30 de largura como é até hoje. Dois metros formavam um rolo
fininho que eu carregava pela José Bonifácio estribado no ombro e com a outra
ponta baixa na minha frente, então acho que me distraí com alguma coisa e sem
querer enfiei a ponta do rolo no meio das pernas de uma mulher que ficou muito
brava e apesar das minhas desculpas armou uma gritaria tremenda na rua, exigindo
a presença da polícia. O jeito foi fazer que não era comigo, misturei-me na
multidão e a passos largos subi a Rua Paulo Egídio em direção ao Largo São
Francisco, eu já ia longe e ainda ouvia os gritos dela.
Ainda na Rua José Bonifácio
nº 82 resiste a “Lojas Americanas”
enorme, atravessa até a Rua Direita. É uma loja que vende de tudo, perfumaria,
roupas, utilidades domésticas, brinquedos, eletrodomésticos, ferramentas,
papelaria, etc. Eu quando era criança adorava entrar nessa loja e sair em outra
rua, para mim aquilo era como uma viagem no tempo, impossível de ser feita, mas
eu conseguia.
Na Rua São Bento 74 havia a
“Casa Califórnia” onde se podia
comer o melhor sanduiche de linguiça que provei até hoje, Ocorre que em outro
número há uma lanchonete usando o mesmo nome, não tem sanduiche de linguiça e segundo
Eduardo Carvalho, bisneto do fundador Sr. Manoel Teixeira de Carvalho que
fundou a casa em 1924, nada tem a ver com aquela Casa Califórnia que fechou as
portas no início da década de 80 devido à deterioração do centro.
Também na Rua São Bento 514
ficava a “Leiteria Pereira” casa
fundada em 1884, onde pode-se almoçar uma comida bem preparada ou a qualquer
hora do dia um lanche dos bons. Hoje continua com o novo nome “Guanabara São Bento”.
Havia também uma loja “Mappin” nesta rua no nº 230, não tão
cheia como a matriz, mas com a maioria dos itens.
No Largo do Café nº 18 numa
pequena portinha fazia-se o melhor hot-dog de São Paulo, estava lá desde os
anos 40, passei lá há dois anos e verifiquei que ainda estava lá, só a marca da
salsicha havia mudado para uma mais comercial, mas continuava bom. Novamente passei
lá há alguns meses e verifiquei que foi incorporado ao bar e restaurante da
esquina, entrei e saí, perdi a fome.
Continuando na Rua São Bento
nº 230 não posso esquecer da “Botica
Veado de Ouro” farmácia de
manipulação tradicional que está lá
desde o início do Sec. XX, com muita fama, porque naquela época eram bastante
raras as farmácias de manipulação..
Também na Rua São Bento,
esquina com a Praça Patriarca havia a “Casa
Fretin” que vendia óculos, artigos
cirúrgicos e o que quase ninguém sabia, uma seção de livros com volumes de
ocultismo muito completa com edições nacionais e importadas.
Na ponta do Viaduto do Chá
está o “Edifício Conde Luiz Eduardo Matarazzo”
que foi construído para abrigar a sede das “IRFM Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo” foi projetado pelo
Arquiteto italiano Marcello Piacentini a mando do Empresário Francisco
Matarazzo Jr. O Projeto tem inspiração fascista devido à ligação do arquiteto
com o regime de Mussolini. O mármore que o reveste veio todo da Itália. Sediou
os escritórios do conglomerado fabril Matarazzo desde a sua inauguração nos
anos 30 até 1972. Entrou como pagamento de dívidas ao Banespa e sucessivamente
acabou ficando com a Prefeitura de São Paulo, que desde 2004 fez dele sua sede.
Na Praça Patriarca nº 84
durante muitos anos funcionava a “Casa
São Nicolau” que era uma loja de
presentes e utilidades domésticas. Ainda tenho um sininho que ganhei lá de um
Papai Noel, quando era criança.
Na esquina da Rua Libero
Badaró ficava o “Othon Palace Hotel”,
com seu “Chalet Suisse” no último
andar, com uma bonita vista para o Anhangabaú. Foi lá que conheci o fondue, que
naquela época era servido com queijos importados, uma vez que não existiam
Ementhal ou Gruyere nacionais, por isso era um prato muito caro, era para
ocasiões muito especiais como para impressionar alguma rabiteza. O prédio
encontra-se fechado sem uso mais uma vez devido à deterioração do centro. Há um
projeto da Prefeitura de São Paulo para integra-lo ao edifício sede da
municipalidade, instalando lá algumas secretarias e consta que será feito um
túnel por baixo da rua para sua melhor integração. não sei a quantas anda a
realização deste projeto, mas quando se trata de desperdiçar dinheiro público
as coisas até costumam andar rápido.
Na Rua Direita esquina com a
Quintino Bocaiuva ficava a “Casa
Bevilaqua” vendiam partituras, livros de música e discos LPs. Quem me
atendia era o vendedor Sr. Prado, sempre muito atencioso, quando eu chegava ele
já tinha separado o que eu costumava levar.
Na Rua Quinze de Novembro
esquina com a Rua Gen. Carneiro havia uma loja de balas, bombons e confeitos da
marca “Sonksen” cuja fábrica ficava
na Rua Vergueiro 310. Faziam vários tipos de chocolates, doces e balas, mas o
produto que mais fazia sucesso eram as balas de cevada que eram vendidas em uma
latinha oval (havia também uma cilíndrica maior). A situação financeira da
indústria não era das melhores, eram produtos finos e caros se comparados com a
concorrência. Um dia nos anos 80, o que restou da fábrica pegou fogo, nada sobrou e nunca mais
tivemos as balas de cevada.
Na Rua Roberto Simonsen
havia uma loja “Argênzio” que comercializava queijos de marca própria e
de outros fabricantes, vinhos, bacalhau, e iguarias diversas. Havia uma filial
do lado esquerdo da Catedral Metropolitana entre a Praça da Sé e Praça João
Mendes e alguns supermercados em bairros onde havia um atendimento diferenciado
na venda de queijos e frios. As lojas fecharam, a fábrica de queijos trocou de
donos, os supermercados, passaram a fazer parte das grandes redes pasteurizadas
e homogeneizadas.
Cine
Texas – Rua Roberto Simonsen 88 – Passei várias vezes na porta
deste cinema mas nunca entrei: Eu nunca
gostei de cinemas que passavam dois filmes na mesma sessão, geralmente pelo
menos um deles era muito ruim e às vezes até os dois se enquadravam nesta
característica.
A “Catedral Metropolitana” merece sempre uma visita, com sua
imponência e suas gigantescas portas confeccionadas pelo “Liceu de Artes e Ofícios”. É consagrada a Nossa Senhora da Assunção
e o início de sua construção se deu em 1913 com projeto do arquiteto alemão
Maximilian Emil Hehl. A construção tem predominância do estilo neogótico,
inspirada nas grandes catedrais medievais da Europa. Mosaicos, esculturas e
mobiliário foram trazidos de navio da Itália. Foi inaugurada em 1954 com as
torres ainda inacabadas, sendo terminadas em 1967. Em 2001/2002 foi restaurada
seguindo-se as plantas originais de 1912. Abriga um órgão “Balbiani &
Rossi” construído em Milão em 1954, sendo restaurado em 1996/7. É o maior órgão
de tubos do Brasil.
Na esquina da Rua Barão de
Paranapiacaba ficava o “Bar e Pastelaria
Modelo” que citei na postagem da
Praça da Sé. Ainda está lá com outro nome, mas infelizmente com as várias trocas
de donos e reformas não tem mais aquele pastel de palmito que eu gostava quando
era criança com meu pai e que sobreviveu até há bem pouco tempo. Passei lá e
constatei que o que há agora é um pastel de palmito igual a tantos outros que
existem em São Paulo.
Na Rua Barão de
Paranapiacaba ficava a “Papelaria São
Miguel” que tinha o maior sortimento de penas para quem fazia caligrafia.
Era um balcão de vidro inteiro com uma quantidade enorme de penas de ferro,
latão, bronze, etc.
Havia uma loja de tecidos
chamada “R. Monteiro” na Rua
Quintino Bocaiuva nº 71 e várias filiais espalhadas pelo centro, onde eu
comprava tecido para mandar confeccionar ternos, sim eu trabalhei muito tempo
de terno e gravata. Os preços eram bons e só trabalhavam com tecidos de ótima
qualidade que eu entregava ao “Sr.
Monteiro” (nada tinha a ver com a loja), alfaiate português amigo de meu
pai que morava na Rua Padre Antônio José dos Santos, no Brooklin e fez inúmeros
ternos para mim com extrema perfeição.
Na Praça da Sé havia o
restaurante “Juca Pato” no térreo do
“Edifício Wilson Mendes Caldeira”.
Tinha um balcão com cadeiras giratórias que dava várias voltas no salão muito
iluminado com lâmpadas HO. Ficava aberto a noite inteira numa época que eram
raros os locais 24 horas. Saia-se do cinema na seção da meia noite lá pelas
2:00 horas e era possível saborear um lanche às 3:00 da manhã acompanhado de
uma Brahma que era a cerveja mais solicitada na época. Este edifício foi o
primeiro a ser implodido no Brasil, no início da década de 70 para a construção
da Estação Sé do metrô.
Cine
Santa Helena – Praça da Sé 259 – O cinema ficava no
Palacete Santa Helena e foi inaugurado em 1925. Estive lá no final da década de
60 e estava bem decadente, mas a sala de exibição era muito bonita. Foi
demolido em 1971 para a construção da estação Sé do metrô.
Cine
Mundi – Era o porão do Cine Santa Helena. No final da década
de 60 infelizmente se o cinema principal estava decadente, dá para avaliar como
se encontrava o porão.
Teatro
Paramount – Av. Brigadeiro Luís Antônio 411 – Era lá que ocorriam
os Festivais de MPB de 1964 a 1968 e grandes shows com Tom Jobim, Nara Leão,
Jair Rodrigues, Elis Regina, Chico Buarque e outros que não me vem agora à
memória. Com o AI 5 da ditadura em 1968, acabaram-se os shows e festivais,
devido à exigência de censura prévia doravante. Em 1969 foi parcialmente
destruído por um incêndio, sendo restaurado posteriormente levando o nome do
patrocinador que levou adiante a reforma: “Teatro
Abril”. É um teatro com uma excelente acústica e um palco de grandes
proporções.
Cine
Joia
– Praça Carlos Gomes 82 – Lá passavam filmes japoneses da Toho, teve uma
época que eu vi muitos filmes japoneses
na região da Liberdade.
Casa
Espiral da Música – Era uma loja de discos que ficava quase em
frente ao Cine Joia. Tinham um sistema de vendas original: Na prateleira ao
alcance do público, estavam só as capas do disco com um papelão dentro com um
código marcado. Se você se interessou pelo disco ia ao balcão e uma funcionária
muito sorridente e prestativa te mostrava o disco em perfeitas condições e
punha-o para ouvir se fosse do seu interesse. Comprei lá muitas raridades.
Haviam várias filiais na região da Liberdade e uma no Viaduto Santa Efigênia.
Na
próxima semana, a Parte IV – Av. Liberdade a Av. Jabaquara
Marcadores: Memórias
8 Comments:
Havia um cinema na rua Libero Badaró, se me lembro..e lá eu vi o filme italiano "O transplante" com Giancarlo Gianini, começo dos anos 70....não me lembro do nome do cinema, creio que era no terro do
edificio Conde de Prates..
o Cine Mundi, até onde me lembro,
tinha uma entrada lateral ao cine
Santa Helena. Era pequeno e com
colunas que atrapalhavam a visão.
Cinemas são antros de perdição e degradação da família, mas você não deve saber o que é uma, por isso passou uma boa parte da sua inútil vida frequentando esses lugares. Espero que você não tenha filhos, porque passará a eles um péssimo exemplo e achará normal eles frequentarem cinemas. Irresponsável
aki pa tu ai em cima oh
_)_
Corruptos e religiosos insanos estão em toda parte, apagar a memória do povo é a intenção desses imbecis, assim fica mais fácil manipular a opinião de uma legião de gente desprevenida e burra!
Apenas um detalhe: a Pastelaria Modelo originalmente ficava na esquina da rus Boa Vista com a Praça de Sé. A dupla pastel de palmito+caldo de cana era minha preferida. Depois mudou para o endereço na matéria. Excelente postagem pela riqueza de detalhes.
E onde ficava a antiga sede da Matarazzo? Não essa aí do viaduto do Chá. Ficava na Praça do Patriarca. Alguém tem foto do edifício?
Nota mil ,ate co.partilhdi n face pena alguem solicitar remover fotos vc edta de parabens
Thanks for sharing, nice post! Post really provice useful information!
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