18.2.23

 O Bairro Mirandópolis II

Na Av. Jabaquara, 244, há o “Convento Sta. Teresa” construído entre 1946 e 1948. Embora tombado, a Prefeitura da São Paulo permitiu a construção de três prédios de apartamentos no entorno, completamente à revelia da lei. Deve ter corrido muito dinheiro na mala preta. Lembro de quando eu estudava no Colégio Arquidiocesano, por volta de 1953, nos levaram numa excursão ali, onde havia uma fábrica de hóstias operada pelas madres. Saí de lá com muitas máscaras de hóstia, que era o que sobrava depois do corte nas prensas.


Fotos do Jornal "São Paulo Zona Sul"

Na esquina da Av. Jabaquara há o excelente restaurante “Osnir”. Lembro do Sr. Osnir quando começou em uma portinha na avenida, onde está hoje o serviço de entregas. Foi ali que comi meu primeiro hambúrguer.

Falando do bairro de Mirandópolis, não podemos esquecer do ônibus 570-Praça da Árvore - Anhangabaú que tinha o seu ponto final ao lado da Drogasil. Descia a Rua das Rosas, Napoleão de Barros, cruzava a Sena Madureira, pegava a Rua Rio Grande, subia a Rua Rodrigues Alves, entrava na Rua Cubatão, descia a 13 de Maio, Brigadeiro Luiz Antônio, Rua Asdrúbal do Nascimento, fazendo o ponto inicial no Anhangabaú. Esta é a única foto que tenho conhecimento, este ônibus era dos primeiros, fabricado em 1959 e o local é o final da Brigadeiro Luiz Antônio.



Entrando na Rua das Rosas, no N° 50  havia o “Restaurante Rosinha”, pequeno mas tinha uma pizza muito saborosa. Havia uma janelinha que separava a cozinha do salão. Um dia eu estava lá com uns amigos e o cozinheiro era novo e não estava familiarizado com os termos de bebidas e pratos. Por isso os garçons viviam perturbando ele. Nisso um garçom gritou para a cozinha: - Meia de seda, que era um drink muito em moda na época. O cozinheiro rapidamente colocou a cabeça na janelinha e respondeu: - Meia de seda é PQP!


Em frente a Drogasil há a Banca Orissanga, onde comprei muitas revistas e coleções numa época que haviam muitas publicações



Descendo a Rua das Rosas, no N° 95 havia o Externato Anchieta, onde fiz parte do curso primário e datilografia. Lembro da diretora Dona Brasília, muito rigorosa e da professora Dona Norma. Foi ali que no dia 24 de agosto de 1954, suspenderam as aulas e me levaram para casa. O Presidente Getúlio havia morrido. Esse dia está bem claro em minha memória. No local há um prédio de apartamentos.


Falando do Bairro Mirandópolis, não esqueço da Paróquia de Sta. Rita de Cássia na Praça do mesmo nome (no mapa Praça das Flores). Naquela época a Praça chamava-se Potirendaba. E lembrando dessa paróquia, não esqueço do Cônego Olavo, que tive a honra de conhecer pessoalmente. Fundador e empreendedor da igreja fundada em 22/05/1960. Tinha um carisma excepcional e conseguiu arregimentar a todos em torno da construção da igreja. A missa das 10:00 horas no domingo atraia os jovens com um conjunto com bateria, baixo e guitarra elétrica.

Em construção

Cônego Olavo


Na praça existe a Banca Santa Rita onde compro até hoje as revistinhas “Pato Donald e Tio Patinhas que leio desde 1953.



Na outra esquina com a Rua Senador Casemiro da Rocha, encontra-se até hoje a “Padaria Santa Rita” com o melhor pão da região. Na época eram proprietários um casal de portugueses, amigos de meu pai. Nessa época meu pai já estava aposentado e como ex-proprietário de padaria, era sempre chamado para ajudar.



Saindo um pouco da Rua das Rosas, não esqueço da feira da Rua Comendador João Gabriel. Infelizmente o bairro hoje não tem feira alguma.

Na Praça Santa Rita, onde construíram recentemente um cachorrodromo, havia uma escola de madeira da Prefeitura de São Paulo, pintada de verde, como haviam muitas espalhadas pela cidade, todas com apenas 2 salas de aula. Havia também uma no fim da Rua das Hortênsias, perto de onde há hoje a Av. José Maria Whitaker.



Ao lado, encontramos a “Igreja Metodista Livre” no N° 445. Muito mais antiga do que sua vizinha do rito católico, há indícios de que tenha sido fundada nos anos 20. No antigo casarão, antiga sede da igreja, quando eu era bem pequeno, lembro de ter participado da Escola Dominical onde as crianças coloriam desenhos. Hoje nesse casarão há um bazar com roupas e objetos usados, todas as 5ª feiras.






No N° 446 há o Barber Shop do Agenor, que conheço desde os anos 80 no Bairro da Penha, quando eu tinha um fliperama por lá. É uma amizade que prezo muito desde aquela época.

 


Este prédio não nenhuma história a ser contada, mas tem uma coisa de suma importância. Aqui atualmente se vendem vinhos, item que eu considero essencial ao ser humano. A loja é nova, mas com muita variedade e muito bem organizada.



Na esquina da Rua das Camélias, havia uma farmácia quando eu era criança que se chamava Droga Avanço, era do Sr. Adelino, mais tarde passou a ser “Farmácia Sassaki”. Tomei muita injeção ali também quando garoto. Posteriormente passou a ser “Droga Nossa” do Júlio, outra amizade que mantenho. Logo depois tivemos ali a "Colheita Orgânica" do Mauricio, que faz muita falta, no bairro não há nenhum lugar vendendo orgânicos. Hoje há uma distribuidora de Água Mineral no local.

 



Do outro lado havia um bar de um senhor português, que se chamava António, ele fazia às quintas feiras um bolinho de bacalhau muito bom. Quando lhe perguntavam porque não fazia nos outros dias da semana, ele respondia que era a mulher dele que fazia e que ela não era escrava. Posteriormente foi instalado no local o “Bar do Marco” que tinha um churrasquinho nas sextas feiras que lotava o bar e as calçadas. Hoje há no local o “Café Quintal 59” com um café expresso de qualidade e tortinhas que eu considero as melhores de São Paulo, principalmente a de palmito com camarão.

 

Entrando na Rua das Camélias, no N° 571 havia a quitanda do Sr. Kiyomatsu, que tinha dois filhos. Um deles estava sempre ajudando o pai e o outro estava lá só de vez em quando. Ele era nada mais, nada menos que o Massafumi famoso terrorista procurado pela Ditadura Militar. Hoje há no local um “Sebo de Livros Usados com Café e vinho” recém instalado, muito bem organizado.


E aqui encerro minhas memórias do bairro de Mirandópolis. Em breve postarei uma resenha sobre os bondes que circularam em São Paulo.

 


10.2.23

 O Bairro Mirandópolis I

O bairro aparece em mapas desde 1914.

A família Rocha Miranda era uma das proprietárias de terras na região. Provavelmente o nome Mirandópolis venha daí.

Acervo do Museu Paulista

Eu nasci em 1946 quando meus pais moravam no nº 1464 da rua Luís Góis, (no mapa do bairro Av. das Chrysandálias),  imóvel este adquirido em 1943 e vendido na década de 90.

Minha memória vai até aproximadamente 1953, quando foi inaugurada a extensão da linha de ônibus 11-Vila Mariana, da CMTC, que fazia ponto final na esquina da Rua Napoleão de Barros em frente à padaria, que naquela época era um bar. Encontrei referência desta linha de ônibus já nos anos 30, pertencente à Auto Viação Jabaquara. Os ônibus ficavam parados em fila até onde fica hoje o “Supermercado Santa Fé”, vale a pena citar que é hoje o melhor supermercado do bairro com muita variedade e um atendimento nota 10.

Supermercado Santa Fé

A Rua Luís Góis não era asfaltada na época, mas sim de paralelepípedos e da Rua Napoleão para diante era de terra batida. Os ônibus eram iguais a este, herdados pela CMTC da Viação Jabaquara


Logo substituídos por iguais a este


E alguns destes


Nas duas esquinas da Rua Napoleão de Barros, encontra-se ainda hoje o que restou dos imóveis de uma senhora portuguesa, amiga de minha mãe. Tinha uma única filha que foi assassinada bem jovem e estes imóveis ficaram sem herdeiros. Um deles é usado como estacionamento da padaria que existe no local.





Isto é o que restou da residência desta senhora. Quando faleceu, na década de 70,  era uma casa habitável.


Subindo a rua, no nº 1658 havia a “Farmácia do Sr. Marques”. Era farmacêutico, mas fazia as vezes de médico do bairro. Vestia-se todo de branco e circulava no bairro em um Sinca Chambord. Quando garoto fui muitas vezes atendido por ele quando adoecia.


 

Iniciou sua farmácia nesta esquina da Rua das Orquídeas com Rua D. Luiz de Bragança, onde é hoje um bar noturno.

No Nº 1566 encontrava-se a Quitanda da Dona Ema, que eram um casal de Italianos amigos de meus pais, seu marido quando ia na missa de domingo na Igreja Nossa Senhora da Saúde, se vestia com um terno cinza riscado e um cravo vermelho na lapela. Hoje no local encontra-se o simpático bar “Seu Gois”



Quando voltávamos do centro da cidade, descíamos do ônibus em frente ao Nº 1536. Na época a única condução para o centro era a Linha 11-Vila Mariana ou o bonde 23-Domingos de Moraes que saía da Praça João Mendes e passava na Av. Jabaquara. O abrigo está lá na Praça João Mendes até hoje. Fazia ponto final na Praça da Árvore.

Subindo a Rua Luís Góis em direção à Av. Jabaquara, encontramos na esquina da Rua 3 de Maio a casa que era a residência de “William Salem”, que foi prefeito em São Paulo, por um curto período e vereador em várias legislaturas.



Na outra esquina da mesma rua, no N° 1466, encontra-se o sobrado que foi do Sr. Júlio que era taxista. Lembro ainda do Chevrolet 1946 preto. Tinha 2 filhos, a Maria e o Wilson. No carnaval nos levava, eu e minha mãe por um passeio no centro da cidade. Recordo que foi a primeira vez que passei pelo túnel da Av. 9 de julho, que me impressionou muito

Chevrolet igual ao do Sr. Julio

No local hoje há O “Bazar Sta. Bárbara”. Um dos poucos locais no bairro onde se vendem ainda lãs e linhas para aviamentos e costura.

 



Esta é a casa que eu morava até os cinco anos de idade. Foi aí que provei cachaça pela primeira vez na vida. Eu já morava na casa da Rua das Camélias e meu pai estava fazendo uma obra nessa casa e para agradar aos pedreiros comprou uma garrafa de cachaça. Até hoje quando provo alguma muito boa lembro do sabor que foi a cachaça da minha infância.


Em frente havia a “Padaria Urca”, que depois mudou o nome para “Nova Palladium”. O prédio encontra-se fechado, depois de ser uma loja de materiais de construção.



Na esquina da Rua Primeiro de Março, ficava o excelente restaurante e pizzaria “Cipózinho”, com seus garçons idosos e eficientes e muito boa comida e pizzas com borda salpicada de gergelim. Hoje há uma loja de roupas no local. Quando mudou para o prédio ao lado, parece que a qualidade ficou no prédio antigo. Hoje só abre no almoço e até mudou de nome.

Seguindo-se em direção à Av. Jabaquara encontra-se no Nº 1245 a “Doceira Marron Glacê, com suas coxinhas excelentes e uma rosca de frutas ou de coco muito boa. Fora os bolos que podemos encomendar ali para todos os aniversários da família.


Um pouco mais para cima no N° 123, encontra-se ainda hoje o “Chaplin”, com sua boa pizza e muito boa comida, fora a decoração bem original e aconchegante. Só a placa “Fechamos às Segundas Feiras” que não está mais lá, mas continua fechando nesse dia, que é o descanso merecido.



No Nº 1022, havia a Pizzaria Moraes, com seu garçon Rocha que era amigo de meus pais. Comi muitas pizzas ali acompanhadas de vinho Aquatantiera, que era um dos melhores da época. Hoje há no local a loja “Pé de Minas” com queijos meia cura, frescos, requeijão, biscoitos de polvilho e outras coisas mineiras, bem como muitos doces.


No Nº 994, onde se encontra hoje a Loja de utilidades “Utilex”, havia o “Restaurante Marialva”, especializado em bacalhau, com sua vitrine refrigerada de vidro e mármore. Era da cantora Irene Coelho, nascida em Rio Claro e que cantava um repertório de músicas portuguesas e se apresentava por lá. Lembro de ter ido lá uma única vez com meus pais. Bacalhau sempre foi muito caro.

Irene Coelho



Na esquina da Av. Jabaquara, onde está hoje o restaurante “Tá no Ponto”, com a melhor coxinha e empadinha de São Paulo. Ali havia um ponto de carroças de frete e um bebedouro de ferro fundido igual a este. Haviam muitos bebedouros iguais espalhados pela cidade.




Do outro lado, esquina com a Rua Caramuru, está até hoje um prédio que lembra um navio, o Edifício Lutfi, não consegui descobrir o arquiteto que o projetou.


Em breve a 2a. parte com a Rua das Rosas